sábado, 19 de dezembro de 2009

Preciso me encontrar
(Candeia)
Deixe-me ir, preciso andar,
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar...
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Quando eu me encontrar...
Quero assistir ao sol nascer,
Ver as águas dos rios correr,
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer, quero viver…

Origens do Medo da Morte - Parte VII

Conclusão
Conhecemos os medos em todas as dimensões do nosso desenvolvimento e a experiência destes medos constituem-se a vivência de nossas mortes diárias, tenhamos consciência disto ou não. Assim, morremos a cada respiração, a cada apego, a cada fuga, a cada perda, a cada dia quando dormimos, a cada crença que abrimos mão... Na dimensão física percebemos e reagimos instintivamente a estas perdas; na dimensão emocional sentimos, rejeitamos ou aceitamos estas mesmas perdas e na dimensão intelectual alcançamos o conhecimento destas mortes diárias. E não conseguimos transformá-las. A transformação só é possível com o desenvolvimento espiritual, quando transcendemos o conhecimento ampliando nossa consciência e alcançando a sabedoria. Quanto mais conscientes estivemos de nossas mortes diárias, mais nos preparamos para o momento da grande perda de tudo que colecionamos e nutrimos nesta vida, de toda a nossa bagagem intelectual, todos os nossos relacionamentos afetivos e do nosso corpo físico. Lembrando que o grande medo da dimensão espiritual é o de submeter-se, podemos afirmar que só com muita fé poderemos nos submeter ao momento da morte de forma suave e menos dolorosa. É bom lembrar que não precisamos aguardar a proximidade da morte física para entrarmos em contato com estes medos; muito pelo contrário, se fizermos antes este contato através de nossas pequenas mortes diárias, alcançaremos uma melhor qualidade de vida, enquanto nos preparamos para a grande perda, a do corpo físico. Morte e vida são opostos na nossa realidade dualista e apenas nela. Morte e vida são um único aspecto quando nos tornamos um Ser Inteiro, integrando e vivenciando todas as dimensões do Ser.
NUREKR I e ITAI
Por acreditar na origem do medo da morte em suas quatro dimensões, fundamos a ITAI como a filosofia de promover a dignidade na vida e na morte para todas as pessoas que assim o quiserem, entendendo dignidade como o respeito a si mesmo, ao outro e a todas as formas de vida; e adotamos o "HOSPICE" como modelo assistencial a nível domiciliar, ambulatorial e hospitalar. O NUREKR I, imbuído desta filosofia e inserido em um contexto acadêmico, desenvolveu um programa de capacitação visando uma mudança de atitude frente à morte e ao processo de morrer, permitindo assim que seus profissionais, ao receberem uma assistência na elaboração de suas perdas pessoais, sejam capazes de assistir ao processo de morrer e a morte de seus clientes com menos transferências, aumentando assim a qualidade de seus atendimentos. Neste processo de capacitação temos a oportunidade de trabalhar as cinco fases que antecedem a morte, descritas pela Dra. Elisabeth Kübler-Ross: NEGAÇÃO, RAIVA, BARGANHA, DEPRESSÃO E ACEITAÇÃO (KÜBLER-ROSS, 1969), nas quatro dimensões do ser humano: física, emocional, mental e espiritual.
(autores: Celso Fortes de Almeida e Maria Fernanda C. Nascimento)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Conheça a rotina da enfermaria que cuida de pessoas no fim da vida

No Profissão Repórter desta terça, 15, uma reportagem exclusiva e emocionante. Pela primeira vez, uma equipe de TV entra na Enfermaria de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Estadual, em São Paulo.
Ali, médicos e enfermeiros lutam para tornar menos sofridos – e mais felizes – aqueles que podem ser os últimos dias de pacientes terminais. [...]

http://especiais.profissaoreporter.globo.com/programa/2009/12/14/nesta-terca-a-rotina-de-uma-enfermaria-que-cuida-de-pessoas-no-fim-da-vida/

sábado, 5 de dezembro de 2009

Origens do Medo da Morte - Parte VI

A Dimensão Espiritual

A última dimensão nesta cronologia, a espiritual, tem início na adolescência e continua até momentos antes da morte física. Uma vez integrados os três primeiros níveis do ser humano e avançando no processo de individuação, alcançamos uma dimensão além do ego e do inconsciente pessoal e entramos no campo do Self ou Eu Real. Nesta direção, damos o enfoque da espiritualidade e das necessidades transcendentais inerentes a todo ser humano e diferentes do seu nível de religiosidade. (GROF, 1988). A vivência básica desta fase é a vontade de saber ouvir a voz interior, ainda que muitas vezes nos vários níveis de inconsciente, com o propósito de alcançar a unidade. Como viemos da unidade temos uma pulsão de buscar a unidade: buscamos a nossa integração física cuidando da nossa alimentação, do nosso ambiente, do nosso conforto; buscamos a nossa integração emocional vivenciando e aceitando nossos sentimentos, as nossas rejeições e abandonos; e buscamos nossa integração mental reescrevendo a nossa própria história e transformando as nossas realidades. A necessidade básica de retornar à unidade somente se realiza quando nos tornamos co-criadores dos nossos próprios processos e assumimos a responsabilidade pelas nossas próprias circunstâncias. O medo desta dimensão é o de submeter-se. Entendemos submissão, no contexto do nosso ego, como humilhação e sinal de fraqueza e perda. Paradoxalmente, quando somos donos do nosso ego é que podemos abrir mão dele e submetê-lo ao nosso Eu Real. "Somente quando você perder a sua vida a ganhará...". (Lc 17,33 1973). Então nosso maior impedimento - as realidades cotidianas e dramáticas do nosso ego e personalidade - se transforma na maior potencialidade para nos introduzir numa realidade maior, aqui e agora. Integrando as experiências da dimensão espiritual à ampliação da consciência, alcançamos a paz interior, o conhecimento do propósito da vida. Ao contrário, quando não conseguimos integrar as três dimensões interiores: física, emocional e mental, não alcançamos nosso desenvolvimento na espiritual e ficamos desorientados e sem propósito.
(autores: Celso Fortes de Almeida e Maria Fernanda C. Nascimento)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Subindo a escada...

 
DE TUDO FICARAM TRÊS COISAS:

A certeza de que estamos sempre recomeçando...
A certeza de que precisamos continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...
Portanto devemos fazer
Da interrupção um caminho novo...
Da queda um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro.

Fernando Pessoa
(Foto do Templo Budista de Eisho-Ji em Kamakura no Japão)

Gestos Finais

Esta foi a mais recente mensagem enviada pela coordenadora do nosso Grupo de Estudos, Telma França, antes do último encontro desse ano.
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Olá, Grupo.
Este é o título da minha última aquisição literária:

Gestos Finais - como compreender as mensagens, as necessidades e a condução especial das pessoas que estão morrendo
Editora: NOBEL - Livro em português - Brochura - 1ª Edição - 1994 - 254 págs.
ISBN: 8521308000 e ISBN-13: 9788521308003

As autoras KELLEY, PATRICIA e CALLANAN, MAGGIE são enfermeiras com longa e rica experiência no atendimento a pacientes terminais, reveladas nos relatos dos episódios de suas vivências, instigando-nos a falar da morte com um novo tom.

Como diz o prefaciador,
“Mesmo que o leitor não concorde com a visão deísta das autoras, vale a pena ler este livro, até para que cada um dialogue consigo próprio e tome consciência de que é preciso, sim, falar da morte. Não por morbidez, não para fazer terapia contra a fobia, mas, porque, morrer, como nascer, faz parte da vida”

Os VOLUNTÁRIOS DO HOSPITAL DA LAGOA dedicados ao atendimento de pacientes terminais (uso aqui o termo mais antigo) se beneficiarão muito com esta leitura.

Sendo esta a proposta do GRUPO: o estudo da tanatologia com farta sugestão de leituras, com discussões, apresentação de casos, além do estímulo maior que é a experiência das visitas à beira do leito, o APROFUNDAMENTO em todas aquelas questões que tocamos repetitivamente durante estes 2 anos, assim se dará.

No ritmo de fim de tantas coisas acontecendo neste momento, como o encontro às quartas-feiras, o ano de 2009, a primavera dando lugar ao verão, o amigo viajando em férias, nos abraçamos demoradamente, acenamos jogando beijos, mãos no ar... gestos finais.

Beijo carinhoso em todos.
Até a qualquer hora,

Telma


Origens do Medo da Morte - Parte V

A Dimensão Intelectual ou Mental

A dimensão intelectual ou mental vai dos 6 anos à adolescência; sua vivência básica é o desenvolvimento do pensamento e da racionalidade. O sistema nervoso humano só conclui seu desenvolvimento completo por volta dos 7 anos de idade. Todos os medos sentidos até esta fase estarão registrados de forma visceral na memória celular e na forma de crenças na dimensão emocional, ambas anteriores a este desenvolvimento. Daí falarmos em congelamentos, não acessíveis pela simples elaboração intelectual e sim através de vivências regressivas, métodos nativos de resgate de alma, hipnose, sessões de cura e outros. (BRENNAN, 1987 e ACHTERBERG, 1985). O propósito desta fase é compreender a si mesmo e ao mundo. O homem é o único ser vivente capaz de ser sujeito e objeto de uma ação. A racionalidade, diferente da racionalização, esta um mecanismo psicológico de defesa, é a capacidade do ser humano de analisar, situar, classificar, julgar, decidir e discernir sobre fatos seus e do mundo. A necessidade básica é conhecer e organizar a realidade para lidar com as questões que a vida nos impõe. Neste momento da nossa evolução é onde aprenderemos a estabelecer relações entre nossas sensações, nossos sentimentos e nossas crenças com a realidade das nossas circunstâncias. O medo básico desta fase é o medo do desconhecido, do insondável e do inquestionável, o medo da entrega. A integração das experiências vividas nesta fase, a valorização da estrutura racional do discernimento, do reconhecimento da nossa própria capacidade intelectual, nos leva a ser agentes transformadores da realidade. A não integração das experiências desta fase leva a inadequação na realidade, à inabilidade de escolhas pertinentes e ao congelamento em falsas auto-imagens, mantendo padrões de negatividade. (DONOVAN, 1993). Levamos muito tempo da nossa vida para integrar estes três níveis: físico, emocional e mental - o nível da personalidade humana. Apesar do desenvolvimento da dimensão espiritual se dar à partir da adolescência, só será possível nos dar conta desta dimensão e continuar a desenvolvê-la conscientemente se tivermos integrado as três dimensões anteriores. (WALSH e VAUGHAN, 1980).
(autores: Celso Fortes de Almeida e Maria Fernanda C. Nascimento)